As notícias sobre os acontecimentos no mundo árabe chegam-nos de todas as fontes, desde a internet, rádio, jornais até a Televisão. Em causa dos protestos está um vídeo na qual faz um mau retrato do profeta Maomé. Embora o vídeo não tenha qualidade para merecer um cartaz de cinema, ganhou interesse mundial a partir do momento em os muçulmanos saíram as ruas para manifestar o seu descontentamento com relação ao mesmo. Os protestos tiveram uma maior incidência em países tais como Líbia, Egípto, Tunísia, Yemen, Líbano e os quais resultaram na morte de um representante diplomata americano.
Decidi fazer uma análise dos comentários publicados em jornais online em volto destas manifestações para então buscar os principais pontos de discussão em torno dos protestos. O objectivo final é compreender a natureza deste debate.
O primeiro ponto a considerar é o facto de os protestos estarem a ser protagonizados por muçulmanos e destes terem reagido ao filme com extrema violência. Como consequência, há uma tendência de se associar a religião islâmica com a violência
“Os fanáticos estão incomodados porque se fez 1 filme contra maóme e intreteem-se a espalhar violencia gratuita. Se o ocidente publicasse todas as semanas um filme idêntico, eles cansavam-se de correr atrás da sua própria ira. Até as vacas para eles são santas.” – filho do mé-mé
Os protestos direccionavam-se aos Estados Unidos da América, porque o filme foi produzido naquele país. Assim, o principal alvo dos protestantes eram as embaixadas e consulados norte-americanos. Mas há quem pensa que a razão dos protestos não é o filme em si. O filme nada mais foi do que um pretexto, na qual este foi mais uma gota acrescida para o transbordar da ira dos muçulmanos contra os EUA.
“You can't blame the people at there hatred towards America. This isn't just about a movie, this has been building up for all of atrocities America has done to middle east.” [Não culpem as pessoas pelo seu ódio contra a América. Os protestos pouco tem a ver com o filme, é sim o fim da paciência contra todas atrocidades que a América tem causado ao Médio Oriente.] – Sidon
Mas neste debate, ocorrem generalizações extrapoladas. Não se fala de um grupo de pessoas, fala-se de uma toda religião.
“If Islam is the religion of peace why are Muslims so violent?” [Se o islão é uma religião pacífica, porquê então os muçulmanos são tão violentos?] - Theartchive
Assim, considera-se olhar estes actos como prática de um grupo e não de um todo.
“Islam has been hijacked. Real Muslims do not behave this way. Only illiterate and impoverished savages are programmed by thugs are triggered like zombies.” [O islão está a ser desencaminhado. Verdadeiros muçulmanos não se comportam como estes. Somente analfabetos e selvagens empobrecidos são programados por bandidos a agir que nem zombies.]
Estes protestos ocorreram no norte de África, no médio oriente e outras partes da Ásia. O aspecto em comum é a crença. Isso espelha uma realidade inusitada: o islão não tem fronteiras geográficas. O sentimento é quase que comungado em diversas partes geográficas. Podemos sem dúvidas falar de uma Nação Islâmica.
“Unfortunately, Moslems are very fanatical and sensitive about their religion. They need to wake up and realise they live in the 21st century not the 5th century!” [Infelizmente os muçulmanos são fanáticos e sensivos a sua religião. Eles precisam despertar e notar que eles vivem no século XXI e não no século V] – Tlas
Por fim, temos um lado político neste debate sobre os protestos. Pensa-se que a morte do embaixador americano na Líbia está ligado ao estado de caos em que se encontram os países que recentemente testemunharam a queda de regimes ditatoriais, e que a América é, no meio de tudo isto, o principal responsável pela onda de mal estar no médio oriente por querer implantar nessa região o seu modelo político de governação.
“Então, não são os teus amigos rebeldes da primavera árabe que esquartejaram o khadafi e querem fazer o mesmo na syria, estados laicos? eles não gostam nada dessa palavra ehehehe donde se infere que também não deves gostar loooool” – Decide-te lool
Assim, podemos considerar duas grandes dimensões no debate sobre os protestos que decorrem no médio oriente, nomeadamente a religião e a política. Destas dimensões, pode-se concluir que, de certo modo, as manifestações são vistas como a revelação do quão agarrados são os muçulmanos extremistas a sua religião o que faz com que a violência seja aceite na medida em que ela é usada para defender a sua fé. Mas no entanto, não se pode generalizar uma toda religião pelo acto de alguns. Chama-se igualmente atenção para o facto de não associar a política e a religião. Aquilo que numa perspectiva pode ser considerado como sendo um acto de carácter estritamente político, pode ser confundido com uma manifestação de carácter religioso.
Tomás Queface
Referências
http://www.dailymail.co.uk/news/article-2202606/Death-America-chant-protestors-storm-U-S-Embassy-Yemen-smashing-windows-pelting-offices-stones.html#ixzz26Xk0P3yx
http://www.naharnet.com/stories/en/53569-one-killed-25-wounded-in-tripoli-protest-against-anti-islam-film
http://uk.news.yahoo.com/million-man-protest-over-anti-islam-film-015135167.html
http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=2771047
http://publico.pt/Mundo/embaixadas-alema-e-britanica-atacadas-no-sudao_1563032